Este projeto resolveu a falta de uma área de área de convívio interna que era reduzida e impessoal, uma ampliação para uma residência em condomínio no interior de São Paulo com forte presença de uma arquitetura comercial padrão. A premissa definida pelo cliente era de baixo impacto de implantação e o máximo de integração entre os espaços existentes e projetados, com simplicidade e concisão. O uso da terra nas paredes de taipa de pilão e a estrutura de madeira lamelada, definiram toda espacialidade da nova área, criando um ambiente mais acolhedor.
À esquerda a casa original. à direita a partir do guarda corpo a ampliação feita com paredes de taipa de pilão. A estrutura de madeira lamelada colada unifica a fachada e a pintura de terra em tom de terra da casa existente reforça essa unidade.
Partido arquitetônico
A casa inicialmente prevista para uso nos fins de semana, durante a pandemia adquiriu novo status: segunda morada. O casal proprietário, trabalhando remotamente, percebeu que poderia ficar tranquilamente um período em São Paulo, outro em Itu, sem prejuízo para o trabalho desenvolvido em home office. Assim, decidiram ampliar a casa que ocupava um estreito terreno do condomínio, comprando o terreno ao lado, pensando numa maior área de convívio para a família e amigos.
A casa original tinha bom espaço para os quartos, mas apresentava espaços acanhados de convívio para a família que costumava trazer muito familiares e amigos para reuniões. Também dificultava para o trabalho profissional e as atividades de hobby, que se misturavam no espaço de estar. A duplicação da área do terreno permitiu ampliar a área de estar e lazer e criar um escritório/oficina para o marido, deixando entre estas áreas um pequeno jardim que oferece visual para ambos além de um desejável distanciamento entre a concentração do trabalho e a descontração dos encontros.
Figura 2- Existente, paredes de Taipa de Pilão, Conjunto final
Figura 3 - Corte. Ventilação cruzada
Figura 4 - Corte. Saída de ar quente por aberturas superiores
Uma circulação que cruza os dois blocos propostos da rua até a área da piscina, redefine o acesso social da casa que se torna menos estanque, apresentando uma clara fluidez entre os espaços existentes e novos, permitindo visuais para as áreas verdes, antes praticamente inexistentes.
Preocupados com questões ambientais os clientes buscavam opções para o sistema construtivo que fossem de baixo impacto e ao mesmo tempo oferecesse personalidade ao espaço. A terra utilizada como parede estrutural foi a melhor opção, a taipa de pilão sua forma final. Basicamente quatro linhas de paredes de taipa de pilão definem os espaços e sobre elas pousa uma leve estrutura de cobertura feita em madeira lamelada colada. A interface entre os dois sistemas prescindiu do uso excessivo de concreto. Somente no topo das paredes utilizou-se uma proporção maior de cimento para aquilo que na obra se convencionou chamar de “terra gorda” (um exato oposto ao “cimento magro”, termo corriqueiro em obras), isso feito para que as conexões metálicas utilizadas para nivelar e fixar as vigas principais pudessem ser instaladas com a segurança necessária para esse tipo de estrutura. Com isso, interessantes detalhes arquitetônicos ficaram em evidência valorizando o conjunto proposto.
Apoio da conexão metálica no topo da taipa em “terra grossa”. | Fixação da viga ao piso por barra metálica. | Pintura de terra na área da garagem cria conexão entre o novo e o existente.
O baldrame parcialmente aparente (único local onde o concreto foi amplamente utilizado) recebe barras metálicas que fazem a fixação da estrutura da cobertura, evitando que em caso de fortes ventos a cobertura seja levada, uma vez que ela está praticamente apenas pousada sobre a taipa.
Para uniformizar as fachadas antigas e novas foi proposta a utilização de tinta de terra aplicada formando faixas que emulam as camadas de terra da Taipa.
Interessante é observar o uso da terra em uma obra de padrão médio dentro de um condomínio. Esse exemplo é muito educativo para os visitantes, demonstrando o potencial e qualidade dos sistemas aplicados que fogem do comum de mercado e oferecem um refinamento que o senso comum não espera desses materiais, por total desconhecimento.
Vista da área de lazer e piscina. Ao fundo jardim vertical executado na parede da casa original, traz conforto térmico à ala íntima. Jardim entre o bloco de convívio e escritório/oficina
Vista das áreas internas e externa coberta pela pérgola
A forma de integrar a edificação existente com a nova edificação em taipa foi utilizar tinta de terra na fachada principal. Para esta obra foram utilizados 4 tons de terra para simular as nuances da taipa. Foi utlizado terra do próprio terreno, terra de armazenamento da própria artista e mais dois pigmentos naturais, sendo que um dos tons foi feito no local da obra até que atingisse uma coloração mais forte que tivesse o destaque pretendido. Os materiais agregados à argila utilziados foram cal, cola branca, óleo de linhaça e sal, soro de leite, água de cinza e baba de cacto. Partindo-se da cor da argila do terreno, as outras 3 tonalidades foram criadas especialmente para este projeto, pensando-se nos contrastes e harmonia que a terra proporicona. No canteiro de obra, a tinta foi aplicada em diversas demãos, tendo essa função também gerado novos tons para a pintura.
Vista do jardim entre os blocos desde o salão de jogos. | Lavabo.
Perspectiva axonométrica explodida da aplicação da conexão metálica na parede de taipa de pilão. | Detalhe da parede de taipa de pilão com a conexão da estrutura de cobertura.
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